2014, são josé, sc, brasil

equipe: joão serraglio, bernardo brasil, fernanda gorski, flávio schons, rômulo fontenelle, victor delaqua, júlia fáveri, kota matsunaga, gabriel scapinelli, mayná quintana, fred gorski, leandro moraes vidal


terceiro lugar no concurso nacional de requalificação do centro histórico de são josé

centro histórico de são josé: centro cultural expandido

Com a criação das pontes ligando o continente à Florianópolis, o eixo de crescimento de São José se deslocou do antigo centro para novas áreas, próximas das vias que organizam a região metropolitana. O centro histórico caiu num relativo esquecimento, que permitiu que fosse preservado o traçado colonial e uma quantidade considerável de edificações.

Nosso trabalho busca, em primeiro lugar, religar o Centro Histórico a essas novas área de expansão, transformando o centro antigo em ponto de encontro da cidade e Região Metropolitana, e, ao mesmo tempo, busca dar coerência à presença das edificações históricas que formam o centro antigo, para dar voz, através das edificações e do traçado, à história da cidade de São José.

Através do equilíbrio entre a preservação e a transformação, propomos a potencialização do uso cultural que já acontece na região (Museu, Biblioteca, Teatro, Sociedade Musical, Cinema) tratando o centro antigo como um Centro Cultural expandido: uma série de equipamentos culturais, públicos e privados, de lazer e serviços, com o diferencial de não estarem concentrados em uma só edificação, mas espalhados no espaço urbano do Centro Histórico.

Novos usos propostos (Mercado Municipal e Museu de Arte), junto com a melhoria da mobilidade urbana, através da presença de novos modais interligados em estações (bicicleta, transporte marítimo, estacionamentos) e pontos de ônibus especiais (com informações históricas e práticas), estenderiam um convite a comunidade urbana e metropolitana, para que, através do uso, ajudem a preservar a história, não como nostalgia, mas como ferramenta para que as gerações novas possam imaginar o futuro da cidade.

PLANO GERAL


trecho 1
praia comprida

o trecho 1 tem caráter fundamental, pois liga o centro simbólico, de permanência e desaceleração, ao centro economico, espaço de alta densidade, através do aterro, espaço instrumental de privilégio do automóvel e da velocidade.

Neste trecho previmos a construção de um Centro Cívico [A], com o poder executivo e o legislativo, a Câmara (2) e a Prefeitura (1), numa esplanada junto ao mar. O centro administrativo é o eixo que articula o centro histórico e o centro atual, no aterro, liberando o centro histórico para a função cultural, mas ao mesmo tempo, potencializando-o, pela proximidade.

Nesse centro cívico estaria localizada uma das estações intermodais que ajudaria a fazer a ligação entre o centro histórico a as outras partes da cidade e da região metropolitana, com um grande estacionamento, trapiche com atracadouro e transporte marítimo, bicicletário, paradas de ônibus e ponto de táxi.

Um deck teria a função de ligar o Centro Histórico com o Aterro, com uso exclusivo de pedestres e bicicletas, tornando o Centro Histórico o ponto final do trajeto pelo aterro, e trazendo o considerável fluxo de pessoas que hoje utilizam a Beira-Mar de São José, ao centro antigo, rompendo um isolamento histórico a que o centro vem sendo submetido em relação ao centro novo.

Essa praça localiza-se na esquina de duas ruas bastante movimentadas, caracterisando um respiro numa área de uso urbano intensivo. Pequenos estabelecimentos de comércio e serviços (restaurante, barbearia, conserto de máquinas de lavar) tem a fachada voltada para a praça, o que cria um movimento interessante. Além disso um ponto de táxi também ajuda para tornar o ambiente agradável.

É um ponto de convivência, o que está colocado simbolicamente na Igreja que homenageia duas santas: N. Sra de Fatima, que representa a crença dos portugueses, e a Santa Filomena, que é adorada pela comunidade alemã.

Em nossa intervenção aproveitamos a presença do comércio, propondo uma faixa de 1,5 m de apropriação pelos lojistas, para colocação de mesas, placas, e plantas, desde que móveis. Os táxis também são mantidos, mas deslocados da frente da Igreja e passando a ocupar o lugar que eles já utilizam de fato. Uma fileira de árvores protege a praça da rua movimentada, criando um recinto urbano mais reservado e protegido do Sol. A fileira de árvores direciona a perspectiva da esquina em direção à Igreja, valorizando essa perspectiva, mas do ponto de vista do pedestre e não do automóvel.

centro histórico

Propomos o centro histórico de São José como um centro cultural expandido. Não o centro cultural como uma única edificação agregadora de várias funções (como o paradigma modernista sob o qual foi construído, entre outros exemplos, o CIC) mas o centro cultural como percurso criado entre edificações existentes no centro antigo, compreendendo também os espaços públicos, a paisagem urbana, e as edificações e empreendimentos privados que estejam entre eles.

O uso cultural do centro seria sustentado, em primeiro lugar, nos equipamentos municipais. A Casa de Cultura de São José (18), planejada para funcionar no Casarão Moreira, hoje abandonado, mas em processo de aquisição pela Prefeitura Municipal, seria o órgão que faria a gestão dos usos da área, organizando eventos e concentrando informações.

conjunto A
núcleo fundador

O primeiro conjunto de edificações são as que constituem a base formadora do centro histórico e do município.

Igreja Matriz de São José (1), a antiga Casa de Câmara e Cadeia (5) e o Teatro Adolpho Mello (6) são os pilares sobre os quais a cidade foi erigida. Essa conjunto, e sua relação com a Praça Hercílio Luz [1] e o Jardim Cel. Napoleão Poeta [1] foi preservada para manter a ambientação que remete aos valores da cidade colonial. A rua que atualmente passa na frente desse conjunto será fechada para carros. Na frente do Teatro e da Casa de Câmara e Cadeia surge o Largo do Teatro, de apoio aos eventos que acontecem ali. O trânsito também é desviado da frente da Igreja e assim a porta principal pode funcionar como deve, sem ter o contato direto com o trânsito, sem calçadas, como acontece hoje.

A rua que separa a Fundação de Cultura (4) da Igreja também seria fechada para o trânsito pesado, recebendo apenas eventualmente o trânsito de automóveis ligado às atividades da Fundação de Cultura. Na maior parte do tempo e nos fins de semana ali funcionaria um calçadão que também poderia receber eventos da Biblioteca (4), Fundação de Cultura (4) e Grupo Folclórico (3).

Nesse conjunto a preservação é mais importante que a transformação, pois ali estão as relíquias do Centro, os fatos fundadores da cidade.


conjunto B

É a porta de entrada do centro histórico, e, logo na entrada, ao lado esquerdo da rua, está planejada e execução de um Monumento às Freguesias, comemorando a fundação das quatro primeiras freguesias do estado de Santa Catarina, que nos remetem aos anos 50 do século XVIII.

Do lado direito da rua está planejada a execução de uma praça, no local onde hoje funciona a Escola Prof. Candido Damásio (que será transferida para o antigo NEI, na esquina da Praça Hercílio Luz). Essa praça, a Praça Sociedade Musical [2], receberia os visitantes que chegam em ônibus de turismo. Os visitantes desembarcariam na praça e os ônibus seguiriam para o aterro, onde poderiam estacionar. Esse espaço público aproveitaria a topografia para conformar um pequeno anfiteatro, que poderia receber apresentações da Sociedade Musical (8), exibições de cinema ao ar livre do Cineclube Nação Brasil (9), ou do futuro Museu do Cinema (10).

Igreja do Bonfim (7) poderia receber um novo tratamento cromático, utilizando a cor branca, diferenciando-a das outras Igrejas da área. A sua posição no alto, aliada a arquitetura de feição colonial nos faz lembrar das Igrejas portuguesas. A vista a partir da Igreja é a de um mirante: a baía, o centro, e o mar de telhados coloniais.

A chegada à Igreja do Bonfim é uma parte importante do percurso. Depois de percorrer as áreas baixas da cidade, profanas, sobe-se a ladeira e ali está a pequena capela, toda branca, celebrando a ascensão de Cristo ao Céu (o Bonfim), e nos religando ao divino.

conjunto C
campo do ipiranga

À esplanada, separada das Igrejas, que dá para o mar, está reservada a função de ser a ligacão com o contemporâneo e com as trocas materiais, através do grande mercado e dos caminhos que irrigam a área, em contraste com as partes mais altas do centro, ligadas a introspecção e à relação com o divino.

Nessa área se dá a transformação mais profunda, com novo desenho urbano priorizando o pedestre e transformando a área da praça e do antigo Campo do Ipiranga numa grande esplanada contemplativa dedicada aos encontros, à arte e ao comércio.

Essa grande praça funciona como Terminal Intermodal, já que para esse espaço confluem a ciclovia que vem do aterro, o pequeno terminal de ônibus do Centro Histórico, que recebe as várias linhas que cruzam a área, um estacionamento subterrâneo com capacidade para 120 automóveis, e o transporte marítimo, que pode acontecer através do novo trapiche.

Museu Histórico de São José (12) ocupa a esquina, e sugerimos a criação de um pequeno parque associado a um Café do Museu [7] no miolo da quadra, convidando também os donos dos terrenos ao redor a utilizarem esse espaço semi-público como um potencializador para os seus terrenos.

O edifício da Câmara de Vereadores sai do centro histórico para localizar-se na parte final do aterro, conformando o Centro Cívico de São José. Dessa forma o centro recupera sua forma urbana original, com a Igreja de frente para o mar.

O antigo Ginásio de Esportes dá espaço para o Novo Mercado Municipal (14), que, de maneira contemporânea, traz a função de mercado de volta ao centro e anima o uso urbano da área como um todo e especialmente da borda dágua. Junto ao mar, uma fileira de lojas e restaurantes com mesas no exterior cria uma escala menor, mais aconchegante em relação a borda. Do lado de dentro, no vão do mercado, estão os pequenos comércios e o espaço para feira. No segundo pavimento estão os serviços básicos, como correios, lotérica e caixas automáticos. A galeria do espaço superior pode fazer a vez de um palco, voltado para o vão interno, ou para a praça externa dependendo do clima e da escala da apresentação. Na Parte superior um teto-jardim arremata a construção, abrindo espaço para um mirante sobre a baía, e tornando mais suave a presença do edifício em relação ao visual a partir da Igreja do Senhor do Bonfim.

O edifício do Posto de Saúde ganha nova função, simbólica, o Museu de Arte de São José (13), com uma sala de arte local no andar superior, e instalações temporárias no grande salão anexo e na nova galeria na rua lateral do museu [8], que perde a função uma vez que o acesso às casas e ao mercado passa a se dar pela Rua Antônio Ferreira, que serviria também para animar a borda dágua do lado direito do antigo Campo do Ipiranga.

Para a grande esplanada, no antigo Campo do Ipiranga [5], área aberta de grandes dimensões, a partir da preservação dos eixos visuais, delimitamos duas escalas.

Ao lado esquerdo, junto ao Museu Histórico, uma Escala Urbana, que faz a transição entre as edificações privadas e o espaço público, criando um espaço de 2 metros que pode ser apropriado pelo proprietários para colocar mesas, vasos de flores, pequenas placas, estimulando a ocupação e a permanência nesse espaço. Aos poucos, estimulos através do plano diretor podem convidar os proprietários a criar edificações que tenham fachadas abertas para a praça com serviços e comércio, potencializando o uso da franja direita dessa praça por cafés, restaurantes e lojas que aproveitam essa pequena escala e o conforto que ela proporciona.

Do lado direito, está a Escala Monumental ligada ao grande Mercado e ao Museu de Arte. Nessa área o espaço abre-se para o vazio que pode receber as feiras ligadas ao mercado, instalações temporárias ligadas ao museu, festas regionais como a festa da sopa de siri, e apresentações maiores como shows, carnaval e festas.

A grande esplanada contém arborização que protege o centro do Sol e do vento, ao mesmo tempo que preserva os principais eixos visuais, em especial o da torre da Matriz e da Igreja do Bonfim, visíveis a partir do mar.

Outras escalas criam espaços menores dentro da grande esplanada, como o gramado que recebe equipamentos lúdicos para as crianças, com piso de pedra portuguesa reaproveitado da praça hoje existente, junto com espaços de descanso e de jogos, ou a alameda de palmeiras conformada pelas palmeiras que existem hoje na praça relocadas de maneira que preservem os eixos visuais mais importantes.
Um Fio de Água corrente divide a praça nas suas duas escalas, a humana e a monumental, e demarca um percurso lúdico que tematiza o ciclo da água, que vem do Beco da Carioca e desagua no mar. Esse fio é a linha que convida o passante a parar e explorar a área buscando a ligação perdida com o mar.

Chafariz no centro da praça refresca os dias quentes e é um convite a um banho. Não é um chafariz para ser apenas olhado, mas um elemento que serve para ser utilizado, seja entrando no fluxo da água que jorra do chão ou apenas sentindo a brisa fresca que dela se despreende. Ele demarca o coração da praça e liga-se visualmente ao vão do mercado, relendo uma tipologia tradicional do mercado público colonial, espalhado no espaço público.

conjunto D
parque urbano beco da carioca

Parque Urbano do Beco da Carioca surge ao redor da antiga Bica da Carioca que servia de águas aos moradores do centro histórico de São José. Era tradicional nas cidades portuguesas, mas poucas resistiram ao desenvolvimento das cidades. É um documento importante bem guardado no meio de uma área arborizada no centro de São José, que a Prefeitura vai transformar em parque.

O Beco da Carioca deixa de ser um beco, porque passa a ligar duas ruas em cotas diferentes, participando na interligação do roteiro histórico.

A edificação da carioca é preservada, tratada como área arqueológica, enquanto a cota superior passa a exercer funções comunitárias, com centro comunitário e uma pequena escola da paisagem, que ajuda a fazer o manejo do Parque.

Um mirante fecha o circuito entre as cotas mais altas e o nível do mar.

Um plano geral de ocupação rege o funcionamento do bairro.
O plano geral de ocupação da área prevê a separação em duas zonas com características diferentes.

Parque Urbano Beco da Carioca
Zona 1: Ênfase na valorização do patrimônio histórico, sua contemplação e reflexão que evoca.


Parque Urbano Beco da Carioca
Zona 2: Destaque para a educação ambiental e práticas sustentáveis.


trecho 2
balneário guararema
É a área onde está instalada a Igreja da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, com a Capela Mortuária e o Cemitério anexo. O trecho da intrevenção, que inicia na Igreja de N. Sra. De Fátima e Sta. Filomena, lugar onde a vida urbana acontece automaticamente, se encerra nesse pequeno parque urbano, que tem como característica especial de possuir um cemitério anexo, presença que nos remete à finitude da vida.

É um lugar tranquilo e silencioso, de onde se descortinam belas vistas sobre a baía, encerrando o trajeto com o compartilhamento da presença solene da Igreja dos Passos e do cemitério caiado de branco no alto da colina.

ruas




mobiliário e comunicação


paisagismo

cores

As casas coloniais eram tradicionalmente caiadas de branco, recebendo cor apenas nos detalhes, no caso de famílias mais abastadas. Já nas casas ecléticas a cor ocupa o fundo, e os detalhes são ressaltados em branco, pois nessa época as tintas industriais já haviam se popularizado. Já as casas art-déco possuem cores mais sóbrias, com poucos contrastes. Era época da modernidade e, em contraste com o eclético, a discrição das cores da fachada era vista como qualidade.

Dessa forma, as cores exercem um papel pedagógico que ajuda na compreensão da história das edificações e na identificação das diferentes épocas que se sobrepuseram para formar o centro histórico.

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